A Polícia Federal (PF) informou nesta quarta-feira (19) que foi um "erro" a menção ao nome do atual diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, nas perguntas feitas a presos durante os interrogatórios da sétima fase da Operação Lava Jato, em Curitiba.
A informação da PF é resposta a um questionamento da Justiça Federal do Paraná. O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, determinou que a PF
esclarecesse se há alguma prova concreta do envolvimento do diretor no esquema de desvio de recursos da Petrobras.
Em relação ao quesito que figurou em alguns interrogatórios, por erro material, constou o nome de Cosenza em relação a eventuais beneficiários de vantagens ilícitas no âmbito da Petrobras. [...] Não há, até o momento, nos autos, qualquer elemento que evidencie a participação do atual diretor no esquema de distribuição de vantagens ilícitas no âmbito da Petrobras."
Trecho de resposta da Polícia Federal ao juiz federal Sérgio Moro
A Operação Lava Jato investiga um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões e provocou desvio de recursos da Petrobras, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Na primeira fase da operação, deflagrada em março deste ano, foram presos, entre outras pessoas, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
A determinação do magistrado foi baseada em afirmação feita por ao menos dois delegados que colhem depoimentos dos presos desde a última sexta (14). Nos interrogatórios, os policiais afirmaram que o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disseram em depoimentos que empreiteiras pagaram propina também a Cosenza. Os delegados perguntavam aos presos se eles confirmavam essa informação.
Na resposta, a Polícia Federal afirmou que "não há, até o momento, nos autos, qualquer elemento que evidencie a participação do atual diretor no esquema de distribuição de vantagens ilícitas no âmbito da Petrobras".
"Em relação ao quesito que figurou em alguns interrogatórios, por erro material, constou o nome de Cosenza em relação a eventuais beneficiários de vantagens ilícitas no âmbito da Petrobras", afirma o documento.
A PF diz ainda que nenhum dos presos na sétima fase da operação implicou Cosenza nos fatos investigados. A resposta é assinada pelo delegado Márcio Adriano Anselmo.
Depoimentos dos delatores
Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef foram presos no início da Operação Lava Jato. Eles fizeram acordo de delação premiada para contar o que sabem em troca de diminuição das condenações. Eles têm dito, nos depoimentos, que empreiteiras pagavam propinas em contrato com a Petrobras e que o dinheiro ia para diretores da estatal e para partidos políticos.
Esta última fase da Lava Jato teve como foco executivos e funcionários de nove grandes empreiteiras, que apenas com a Petrobras mantêm contratos que somam R$ 59 bilhões. Parte desses contratos está sob avaliação da Receita Federal, do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal.
Nas perguntas direcionadas aos presos, os delegados afirmam ainda que, além de Cosenza, Youssef e Costa citaram também o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, também preso na atual fase da Lava Jato, e Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da empresa.
"Paulo Roberto [Costa] e Alberto Youssef mencionaram o pagamento de comissões pelas empreiteiras que mantinham contato com a Petrobras para si, para os diretores [Renato] Duque [ex-diretor de Serviços da estatal], [Nestor] Cerveró, e [José Carlos] Cosenza e para agentes políticos. O Sr. confirma essa informação?", questionam os delegados, segundo transcrição das audiências publicadas no site da Justiça Federal do Paraná. (Veja trecho da transcrição abaixo).
A assessoria da Petrobras informou à TV Globo que o atual diretor de Refino e Abastecimento, José Carlos Cosenza, nega ter recebido comissões de empreiteiras e que jamais teve contato com o doleiro Alberto Youssef.
Trecho da transcrição de depoimento do ex-presidente da Queiroz Galvão Ildemar Colares Filho à Polícia Federal (Foto: Reprodução/Justiça Federal do Paraná)