A professora Ivone Sobreiro, Presidenta da ALPL - Academia de Letras de Paço do Lumiar e Secretária de Desenvolvimento Social do município relatou em entrevista ao blogueiro Neto Cruz, adaptada pelo Paço em Foco, sua grande inspiração literária - Seu pai, que passou por dificuldades na vida, no envolvimento com o álcool, mas que deixou em sua memória, inesquecíveis lembranças.
O pai da professora foi revisor do Poeta Bandeira Tribuzi, o que lhe proporcionou uma bela formação intelectual. Sua mãe faleceu quando ela ainda tinha 8 meses de vida apenas . Na entrevista ela conta ainda o empenho do fundador da Academia, professor Ferreira da Silva, em tornar esse sonho literário realidade. Confira na íntegra os desafios da instituição, e um pouco sobre a vida da professora Ivone Sobreiro.
ENTREVISTA
Como surgiu esse movimento literário?
Ivone Sobreiro: A Academia de Letras de Paço do Lumiar surgiu inicialmente pela ideia do Professor Ferreira da Silva. Inicialmente, o Professor Ferreira convidou moradores ligados de certa maneira às Letras, ao Teatro, à Música, ao Artesanato, à Fotografia, e propôs a Fundação do Movimento Literário Luminense. Nós nos reuníamos e discutíamos assuntos relacionados à aculturação.
A leitura ainda é uma barreira para o desenvolvimento das pessoas e da nação?
Ivone Sobreiro: O Brasil não se faz um país de leitores. Como se pode ver o índice de analfabetismo é muito grande, principalmente no Maranhão e também no nosso município - Paço do Lumiar. Observa-se que número de leitores é bem pequeno. As pessoas tem dificuldade em síntese, interpretação e a dificuldade de fazer discurso em público. Isso é um reflexo da falta de leitura. Então não só pensando na possibilidade de se contribuir na formação de leitores e no estímulo da leitura surgiu o movimento literário.
No início dos trabalhos vocês obtiveram resposta imediata da população?
Ivone Sobreiro: Houve um trabalho de conscientização nas escolas. Porém, tudo o que se quer se fazer de boa intenção e de bom propósito algumas pessoas desconfiam. Então pra gente era como se tivesse remando contra a maré. Reunimos intelectuais e trocamos algumas ideias e tínhamos grandes planos de elaboração para incentivar a leitura e o gosto literário. Não obtivemos feedback ( retorno, resposta, retroalimentação ). Então o projeto sendo ousado, nós acumulamos algumas obras e eu mesmo comecei a fazer uma cartilha para a cidadania.
Como era a avaliação do público infantil?
Ivone Sobreiro: Percebendo que as crianças já estavam querendo algo mais do que “Bia comia o Bolo”, começamos a escrever alguns textos, onde a criança era quem escolhia o assunto a ser lançado no livro. O material foi aplicado para as crianças da alfabetização. O que era mais interessante era que ao avaliar o trabalho eu perguntava à criança: - o que você gostou? E a criança respondia: - Gostei do texto tal, aquele que fala do preconceito, da corrupção. Então o meu público me avaliava.
A senhora tem carinho especial por alguma obra?
Ivone Sobreiro: Tem uma obra que me marca muito: A Chuva. Eu vivi os momentos alvos da literatura maranhense. Minha mãe faleceu eu tinha 8 meses e meu pai se tornou um homem ébrio e passou um tempo procurando refúgio na bebida – nessa época conheceu alguns poetas maranhenses e consequentemente eu também os conheci, como: Viriato Correia, Carlos Cunha, dentre outros... Meu pai era o revisor do Poeta Bandeira Tribuzi. Então aquilo de alguma forma serviu para a minha formação.
Poucos puderam ter essa honra de conhecer o poeta Bandeira Tribuzi, existe um momento único a ser lembrado?
Ivone Sobreiro: Eu me lembro muito bem um certo dia que o poeta chegou na porta da nossa casa localizada na rua Jacinto Maia – Centro de São Luís, e ele declamou o seguinte poema: / Louvação a São Luís Letra por Bandeira Tribuzzi Melodia por Bandeira Tribuzzi Ó minha cidade Deixa-me viver que eu quero aprender tua poesia sol e maresia lendas e mistérios luar das serestas e o azul de teus dias Quero ouvir à noite tambores do Congo gemendo e cantando dores e saudades A evocar martírios lágrimas, açoites que floriram claros sóis da liberdade Quero ler nas ruas fontes, cantarias torres e mirantes igrejas, sobrados nas lentas ladeiras que sobem angústias sonhos do futuro glórias do passado /
O que a senhora herdou intelectualmente do seu pai?
Ivone Sobreiro: Meu pai era um excelente datilógrafo. Era um poliglota e não admitia erros gramaticais. Ninguém podia falar errado em casa. Essas coisas todas eu fui nutrindo. Roberto Ricci - ele pequeno tocava o cavaquinho nos pés - . Eu tenho a agradecer esses momentos alvos da Literatura Maranhense.
E qual é a importância do Professor Ferreira da Silva na fundação da ALPL?
Ivone Sobreiro: Ele foi crucial nessa fundação da Academia de Letras de Letras de Paço do Lumiar, que é o fruto do Movimento Literário Luminense – tudo iniciado por ele. E me escolheu para ser a Presidenta. Eu tentei dizer não, mas ele não deixou... Com muita luta conseguimos registrar a Academia.
Com a eleição do professor Josemar, podemos esperar mais apoio para a instituição?
Ivone Sobreiro: Acredito muito nesse empreendimento literário. Independentemente de ser a esposa do prefeito eleito, eu já tenho um trabalho com a comunidade. A Academia tem um propósito forte. De acordo com a pretensão do Professor Josemar, a Academia de Letras de Paço do Lumiar terá prédio próprio na sua gestão e assim poderá florir mais ainda a cultura Luminense..